O “Mundo Real”

Bem-vindo à Silent Hill!

Silent Hill, uma pequena cidade turística às margens de um lago. Estamos felizes em tê-lo aqui conosco. Tire algum tempo de seus compromissos e desfrute de ótimas e tranquilas férias.

Quadra após quadra de belas casas antigas; uma maravilhosa paisagem montanhosa e um lago que mostra lados diferentes de sua beleza com o passar do dia – desde o amanhecer até o anoitecer.

Silent Hill conquistará você e o encherá com um sentimento de profunda paz. Espero que sua estadia aqui seja prazerosa e que suas memórias durem para sempre.

Editor: Roger Widmark

 
O texto acima foi retirado de um panfleto turístico encontrado por James Sunderland em sua segunda – e aparentemente última – viagem à Silent Hill. Embora propositalmente carregado de uma ironia e ambiguidades que somente aqueles que conhecem o pesadelo no qual James mergulhou conseguem enxergar, tal texto exemplifica bem como seria a Silent Hill do “mundo real”. Ou seja, a Silent Hill verdadeira – e, curiosamente, aquela que nunca vemos.

Ao que tudo indica, no mundo real a cidade seria uma típica e bucólica parada de veraneio, para onde as pessoas se dirigiriam em busca de paz e quietude. O próprio James havia passado sua lua de mel na cidade, e Harry Mason também estava ali para passar suas férias antes que fosse tragado para um pesadelo aterrorizante. Nenhuma dessas pessoas esperava encontrar viagens extradimensionais para realidades demoníacas ou ter que interromper pactos satânicos e maldições ancestrais. Também não esperavam encontrar a cidade completamente deserta como, invariavelmente, encontraram.

Então, afinal, onde foram parar os cerca de 30 mil habitantes da cidade? E como eles desapareceram sem que ninguém no resto do país notasse?

Aparentemente a resposta é muito simples. No mundo real a cidade continuaria habitada, enquanto que os protagonistas veriam apenas as realidades paralelas onde os habitantes não aparecem. Pode ser que encontrem alguns poucos cidadãos perdidos no chamado “mundo da névoa”, mas estes serão raros. Claro que, em se tratando de Silent Hill, isto não passa de uma hipótese. Os próprios jogos da franquia utilizam com frequência a estratégia de nunca deixar claro se os protagonistas estão “dentro” ou “fora” da realidade, aumentando ainda mais sua confusão – e pânico.
 

 

Habitada ou abandonada?

Há também uma outra hipótese para o dilema habitada vs. abandonada: a de que seus habitantes realmente desapareceram, completamente. Seria uma epidemia? Algum misterioso e inexplicável evento? Algo parecido aconteceu com Shepherd’s Glen, vizinha de Silent Hill. As pessoas simplesmente desapareceram sem deixar quaisquer rastros enquanto os sobreviventes trancaram-se em suas casas ou mudaram-se.

Silent Hill 3 apresentou um perturbador diálogo entre Heather e Vincent, onde a natureza dos monstros que habitam a cidade foi questionada. Vincent levantou a dúvida se eles não seriam, na verdade, pessoas comuns, transfiguradas em figuras grotescas pela percepção deturpada da protagonista. Se esta linha de raciocínio é verdadeira ou não, cabe ao Narrador decidir, mas, de um modo geral, a série estipulou que monstros não se manifestam no mundo real, e que nas demais realidades a cidade está abandonada.

E caso existam habitantes no mundo real e monstros no “outro mundo”, seria possível que uma realidade influenciasse a outra? Ou, nos atendo a discutir o “mundo real”, seria correto acreditar que a existência de um mundo demoníaco dentro de Silent Hill crie acontecimentos estranhos fora destes? Isto certamente criaria um clima bem peculiar no mundo habitado, caso este fosse explorado na narrativa.

Mais uma vez vale ressaltar que todas estas ideias podem ou não ser desenvolvidas pelo Narrador. Caso este queira, Silent Hill poderia estar realmente abandonada (como na versão cinematográfica) ou até mesmo ser um lugar que ninguém sabe da existência – algo como a cidade de Hobbs End, do filme “À Beira da Loucura”. Ou mesmo ser apenas um pesadelo na mente de alguns personagens insanos.
 

Geografia e localização

Geograficamente, Silent Hill é uma cidade de duas partes – uma norte e outra sul – divididas pelo enorme lago formado pelo Toluka Lake e cercada por montanhas e florestas. Na parte norte encontra-se uma área residencial (Old Silent Hill), um distrito comercial (Central Silent Hill) e uma área turística (South Park). São estas as áreas abordada no primeiro jogo da série e revisitada/expandida em Silent Hill: Homecoming e Silent Hill: Origins.

Já a parte sul de Silent Hill (ou South Vale) é vista em Silent Hill 2 e 3, e parece ser a mais visitada por pessoas que estão apenas viajando pela região, devido à quantidade de postos de gasolina, lojas de conveniência e cafés (além de uma estratégica boate noturna) no local.

Por mais que a cidade já tenha seu mapa relativamente fechado, os novos jogos da franquia contribuem – pouco ou muito – para alterações nesta paisagem. Desta forma, podemos considerar que a cidade de Silent Hill pode ser modificada para encaixar-se às exigências da narrativa. Como exemplo, Silent Hill 4 apresentou uma enorme prisão à beira mar para a cidade, ao passo que o novo jogo em desenvolvimento, Silent Hill: Downpour, apresentará áreas totalmente novas (inclusive com um sistema de metrô). Mudança mais drástica foi feita em Silent Hill: Shattered Memories, que reescreveu a história do primeiro título, inclusive alterando sensivelmente a configuração da cidade.

Algo parecido tem sido feito com a localização exata de Silent Hill, que nunca foi bem esclarecida. O senso comum (baseado em diversos indícios) localiza-a no estado de Maine, na região conhecida como Nova Inglaterra. Colocar a cidade ali seria uma espécie de homenagem aos livros de Stephen King, que costuma situar suas histórias neste estado. Apesar disto, o filme “Silent Hill” colocou a cidade no estado de West Virginia, e parece correto aconselharmos que cada Narrador situe Silent Hill onde bem queira, ou mesmo arraste os personagens para a cidade não importa onde estes estejam – desde que isto se encaixe em sua história.

Localizar Silent Hill em Maine, serve tanto para homenagear a Stephen King como para inserir os personagens em um ambiente isolado, pequeno e incomum – ingredientes valiosos para a construção de uma boa história de horror. As metrópoles mais próximas, Brahms e Portland, ficam a não menos que três ou quatro horas de viagem, e as vizinhas Asfield e Shephard’s Glen são, provavelmente, ainda menores que Silent Hill. Realmente, não há para onde correr.
 

Crédito do Mapa: ~Guy-onthe-Couch

Crédito da capa: Eric Persson

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